quinta-feira, 28 de maio de 2009

A mulher na menopausa...

A mulher na menopausa: A fisiologia humana e social no apogeu



Cada vez mais mulheres ao redor dos 45 anos procuram preocupadamente um médico para pedirem orientações ou medicamentos adequados para uma situação que mais parece uma enfermidade do que um passo fisiológico… o climatério.

A menopausa carrega uma série de estigmas relativamente novos que em muito se parece a filosofia médica "pós-moderna" de transformar todo indivíduo em um paciente. A antítese da premissa de que seria o ser humano um clímax evolucionário.

De qualquer maneira há um conjunto de percepções pessoais, sejam elas no campo físico e psíquico adaptativo: alguma coisa parece realmente que não está bem. Isso obviamente impõe que algo seja feito. Mas antes de mais nada é preciso saber com precisão: o que realmente está acontecendo?



Os seres humanos passam por várias fases de transformação a medida que a idade vai passando. Todos nós sabemos disso, mas a impressão mais comum que a maioria das pessoas têm do amadurecimento orgânico é que a terceira idade é muito mais um castigo da natureza, que não planejou o corpo para a felicidade possível pelos anos extras que imaginamos estar obtendo a partir das vantagens de ir além da idade que teríamos sido projetados...

De um modo geral muitas pessoas crêem piamente que a mulher não passaria pelo menopausa na natureza e que a mulher mais velha seria quase uma terrível fatalidade do progresso dos cuidados médicos atuais. Mas é mais provável que a verdade não seja nada disso.



A importância das avós



Em primeiro lugar vamos falar do mito de que mulher mais velha não deveria existir.

Dizer que o ser humano vive mais hoje em dia, pois estaria indo além de suas habilidades biológicas é algo que transita entre o idealizado e a ignorância. Dizer que a natureza não previu mulheres que viveriam além da sua capacidade reprodutiva pode merecer esses e outros adjetivos. (Talvez a ciência, como o homem em geral, esteja em busca da juventude eterna, uma que ser jovem seria o “standard” dessa espécie).

Na Tanzânia, um país que goza da instigante reputação de ser o berço da humanidade existe um povo caçador-coletor, pré agrícola, que teima em não se submeter as virtudes da vida moderna: a tribo Hadza. Estudos com esse povo mostra a importância de uma figura que perdeu importância na atualidade: a avó. É bem provável que os povos mais originais nos dêem informações mais precisas sobre a fisiologia e a exigências sociais para a sobrevivência do “animal” homem do que as especulações atuais que nos criam a firme convicção de que se não existissem remédios a humanidade estaria sob sérios riscos de se manter existente na Terra.

Bem, os estudos com esse povo, e outros espalhados pelo planeta, apontam para o fato de que, para tais estruturas sociais sobreviverem, se impõe a função social da mulher que não pode reproduzir. E isso tem tudo a ver com a infância: o ser humano passa pela maior fase de crescimento de todas as espécies animais. Isso é caro para a organização de uma estrutura social, que precisa proteger sua prole. Por outro lado os ovários param de produzir óvulos em torno dos 45 anos, e a mulher pode ir tranqüilamente até os 60 , 70 ou mais anos... Nessa época as mulheres mais velhas dão a devida proteção para as crianças entre três e doze anos, que não contarão com a sua mãe para devida proteção, uma vez que ela deverá estar cuidando de lactantes. Além disso, várias comunidades originais, mantém na figura da anciã o seu constante elo com sua história. Ela sabe os segredos de seus antepassados, suas tradições protetoras, além de poder oferecer aos mais jovens orientações sobre as dificuldades já enfrentadas ou tratamentos com plantas e outros recursos ambientais para os distúrbios de saúde.

Enfim, esse tipo de conhecimento deve desfazer o mito que muitas mulheres infelizmente repetem: “isso (o climatério) não deveria estar acontecendo comigo...” Na verdade ela deveria, é necessário, e foi fundamental para a manutenção da nossa espécie.

Mas, de qualquer forma, a mulher vai ao consultório médico e apresenta queixas ao médico, que precisam ser atendidas de alguma forma. Mas se os sintomas não são “obrigatórias” pela questão da idade, então que fatores podem levar aos sintomas que tantas pessoas experimentam durante o climatério?



Climatério é uma transição



O climatério é essa longa fase de transição hormonal, que a mulher experiência entre alguma data entre os trinta e sete e os cinqüenta e cinco anos, que é marcada pela menopausa, (a parada da menstruação). Isso significa que os ciclos ovulatórios cessam e as taxas de produção de estrogênio não conseguem estimular o interior do útero para que seja percebido os fluxos menstruais. Uma lista de sintomas são percebidos e relacionados a essa fase. O mais marcante são os fogachos. Porém muitas vezes são percebidos alterações no sono, uma maior instabilidade do humor, redução de libido e da energia pessoal, problemas de pele, secura de mucosas, e muitos outros.

Na segunda metade do século XX, a partir do livro “Feminine Forever” do médico Robert A Wilson, foi postulado que a menopausa seria praticamente uma enfermidade, que precisaria ser tratada com um filosofia terapêutica genericamente conhecida com TRH: terapia de reposição hormonal, inicialmente concebida como reposição de estrogênio, e consagrada com o uso combinado de substâncias à base de imitadores hormonais como os estrogênios conjugados (retirados da urina de égua grávida) ou o etinil estradiol, em adição a uma progestina artificial (tradicionalmente a medroxiprogesterona, mas há inúmeros outros). Essa terapia sofreu um duríssimo golpe quando em 2001 vários estudos bem conduzidos chegaram a conclusão que esse tipo de tratamento seria muito arriscado para a saúde e sobrevivência da mulher. Os tratamentos artificiais aumentariam as chances de câncer de mama, derrame, doença vascular etc.

Após isso foi amplamente difundida a impressão de que o caminho tradicional proposto pela medicina convencional não estava correto.

O drama feminino do climatério está associado a uma soma de situações bastante comuns. Muitas mulheres nessa idade estão vendo os seus filhos saindo de casa, os maridos próximos de, ou se aposentando. Aquelas que trabalham podem estar próximos de sua retirada do trabalho. Algumas poderão estar vendo seus pais adoecerem ou vir a faltar. A vida afetiva e íntima pode estar passado por um momento especialmente delicado. O papel na família e na sociedade pode estar sendo redefinido. Muitas vezes ocorre a superposição desses desafios vivenciais. Mas essas questões podem encontrar uma mulher com pouco “lastro” biológico, principalmente no seu equilíbrio hormonal. Os hormônios são os mais importantes operadores da relação entre o indivíduo e o meio ambiente.

Apesar dessas situações serem relativamente esperadas, uma soma de outras situações modernas danificam as habilidades pessoais para superar tais desafios. Os elementos que compõe esse mosaico de fragilizadores englobam aspectos típicos de estilo de vida, como o sedentarismo, o pouco contato com o sol e a obesidade. Há ainda a sobrecarga de demandas cotidianas que provoca o enfraquecimento das relações humanas, o excesso de preocupações, a limitação das horas de sono e outros aspectos da síndrome do stress.

O balanço hormonal e a fisiologia podem ser muito afetados por um contingente sempre crescente de substâncias artificiais que agem sobre os receptores hormonais – principalmente de estrogênio – como os agrotóxicos, componentes de artigos plásticos, e inúmeras substâncias químicas presentes em produtos de limpeza e de toalete e muitos outros.



Diretrizes terapêuticas



A melhor maneira de encarar a fase do climatério, principalmente o climatério sintomático envolve múltiplas opções. Obviamente a mulher nessa faixa de idade deve procurar, antes de qualquer coisa, ter um olhar cuidadoso sobre sua situação de vida e tentar promover as mudanças que parecerem mais cruciais. Os cuidados alimentares são relevantes, como o são para qualquer pessoa preocupada em manter a saúde pela comida. A postura mais prudente parece ser a busca de uma alimentação basicamente sem insumos artificiais. Várias fito terapias na forma de chás podem ser muito úteis.

Na linha medicamentosa, a melhor perspectiva fica em cima do uso de hormônios bio-idênticos, (à base de progesterona), geralmente na forma de creme ou gel, de uso trans-dérmico nas menores doses necessárias. O emprego desses hormônios deve ser lastreado em dosagens hormonais realizadas de forma consistente, especialmente no que diz respeito as taxas de esteróides, hormônios que são adequadamente avaliados em dosagens salivares, pois as rotinas laboratoriais de sangue não são fidedignas, e não deveriam ser utilizadas como referência para acompanhamento terapêutico. No sangue os hormônios a avaliar são o folicular estimulante (FSH) e o luteinizante (LH), além dos hormônios da tireóide, órgão que habitualmente pode apresentar alguma fragilidade nessa época da vida. O uso de vitaminas, ômega-3 e alguns sais minerais pode ser muito útil também. Especial atenção tem sido dado à saúde óssea, altamente dependente de uma atividade física regular, o contato com o sol, e um adequado balanço mineral, especialmente do magnésio. O cálcio é importante, mas é totalmente dependente do magnésio, da vitamina D (do sol, portanto) e de eventuais excessos de flúor, fosfato e alumínio, todos prejudiciais à saúde óssea. O uso de ômega-3 é de extrema valia. Muitas pacientes somam a esses cuidados medicamentos homeopáticos e fitoterápicos ou suplementos vitamínicos. Mas, essas últimas condutas precisam de assessoramento médico.

Por outro é muito importante não esquecer que o climatério é um fase de transição, que os sintomas vão ceder. Infelizmente não vivemos numa sociedade que dê o devido valor para a mulher mais velha, e de um modo geral encaramos sob um olhar muito negativo a meia idade e a chegada da velhice. É bem possível que se a sociedade acolhesse com mais respeito e dignidade essa transição, o drama do climatério seria minimizado e a vida das mulheres seria mais saudável, com menos medicação, com um horizonte mais positivo, e principalmente com mais felicidade.
José Carlos Brasil Peixoto

240808/060109
fonte:http://www.umaoutravisao.com.br/artigos/hormonal/menopausaeavos.html

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