terça-feira, 16 de agosto de 2011

A importancia da boca na postura humana.

Os dentes têm uma série de funções já conhecidas, como corte e trituração dos alimentos, ajuda na fonação, estética, e aqui será apresentada mais uma, talvez ainda desconhecida por alguns. A boca é o pilar de sustentação da postura humana.
O estudo desta íntima relação entre a boca e a postura humana, teve início na década de 60 no interior de São Paulo com o Dr. Mário Baldani que realizou inúmeros trabalhos e estudos, inclusive dois livros com o Dr. Denisar Lopes Figueiredo, mostrando essas interferências da cavidade bucal e todo sistema estomatognático, não somente na postura, mas também em implicações respiratórias, circulatórias, digestivas, comportamentais, entre outras.
Outros profissionais renomados da área da Saúde também contribuíram e ainda hoje desenvolvem trabalhos que buscam diminuir a distância entre o conhecimento que temos sobre a boca e o restante do corpo humano.
O Dr. Mariano Rocabado, fisioterapeuta do Chile, mostra em seus estudos uma relação entre a oclusão dentária e a coluna cervical.
O Dr. Bernard Bricot, médico de Marselha, presidente do Colégio Internacional de Estudo da Estática, trabalha com posturologia e associa esta ao aparelho manducatório (denominação dos atos que precedem ou iniciam a digestão). Relata que com as alterações de oclusão, as disfunções crâniomandibulares e também as ausências dentárias, ocorre uma alteração postural no ser humano. Esta alteração, segundo ele, também pode ser originada de outros captores, como o pé e os olhos.
Na França, ainda existem diversos profissionais trabalhando com o tema, como Dr. Roland Solére e Dr. Jean Pierre Amigues, entre outros.
Aqui no Brasil, muitos profissionais trabalham com esse conceito atualmente, como o Dr. J.J. Barros, cirurgião dentista, pesquisador e representante da Odontologia brasileira, traduz em seu livro “Tratamento das Disfunções Crâniomandibulares – ATM”, um trabalho de Christopher J. Stevens onde se relaciona a postura com a Ortopedia Maxilofacial.
Para que o Ser Humano tenha uma postura correta é necessária a formação adequada de vários sistemas que, integrados, ajudam a exercer a fabulosa característica humana de ficar em pé sobre duas pernas.
Possivelmente Hipócrates foi um dos primeiros a observar tais alterações, ou um dos primeiros a escrever sobre o assunto, dizendo: “Entre aqueles indivíduos com cabeças alongadas, alguns possuem pescoço grosso, órgãos e ossos fortes, outros tem a abóboda palatina (céu da boca) bem arqueada, dentes irregularmente posicionados, apinhando-se uns sobre os outros, e eles são incomodados por dores.” Depois muitos outros cientistas estudaram e falaram sobre isso, como Fibonacci e Leonardo da Vinci, entre outros.
Além de ossos, músculos, ligamentos e outros sistemas; afirmamos que os dentes ocupam posição de destaque na manutenção do eixo postural. E para chegarmos na postura faz-se importante entendermos outros processos.
O desenvolvimento físico inicia-se no útero materno e se estende até por volta dos 21 anos de idade, quando temos a erupção dos terceiros molares (dentes do siso). Não é por mero acaso que o Ser Humano nasce sem dentes na boca, mas porque ele ainda não precisa ficar de pé. Quando do nascimento por parto natural, o recém nascido vem ao mundo de ponta cabeça, ou seja, aparece a cabeça, depois o tronco e por fim os membros inferiores. Nesta mesma sequência ele irá se levantar para a vida.
Perto dos 6 meses de vida surgem os incisivos inferiores e o bebê, que já conseguia segurar a cabeça com firmeza, rolava e rastejava, começa a engatinhar. Esses movimentos iniciais são importantes para o desenvolvimento psicomotor da criança. O movimento é muito importante no processo de cognição e fala da mesma. Somente por volta de 1 ano, a criança com os incisivos superiores já na boca e em contato com os incisivos inferiores ficará em pé e arriscará seus primeiros passos até que defina o ritmo de andar.
Atualmente, tanto a erupção como as trocas dos dentes acontecem de forma mais acelerada, pois a criança está sendo exposta a estímulos cada vez mais cedo. É uma aceleração, que muitas vezes gera ansiedade e seus efeitos. O excesso de informações, a poluição audiovisual, a televisão, e muitos outros fatos que a criança está exposta, geram essa aceleração, que pode gerar tensão. Esses são alguns dos fatores que fazem com que tantas crianças hoje, apresentem o tão falado bruxismo (ranger dos dentes). A criança, até os 6 anos deveria aprender de forma lúdica, mas atualmente os pais e formadores pensam que quanto antes iniciar o processo de aprendizagem, mais preparado para o mercado de trabalho estará essa criança. Com tudo isso, até as trocas dos dentes estão sendo antecipadas. Mas isso é outro assunto.
Por volta dos dois anos, com a colocação dos últimos molares decíduos, ou de leite (dentes do deleite) a criança começa a perder a conformação de bebê, as dobrinhas nas pernas, coxas e braços e se aventura nas primeiras tentativas de correr.

Na natureza isso é assim. Um exemplo: as girafas já nascem com dentes e logo após o nascimento já começam a andar. Os leões, onças, tigres e muitos outros também. Os cães, gatos nascem sem dentes e assim que nascem não conseguem ficar em pé. Depois de alguns dias (muito mais rápido que o ser humano) nascem alguns de seus dentes e, depois de rastejar, conseguem andar. No mundo natural existem algumas exceções (e não seria diferente no mundo normal; regidos pelas normas atuais) e pode acontecer no ser humano, de a criança dar os primeiros passos antes do nascimento dos 4 incisivos centrais, mas provavelmente essa criança, quando adulta, terá algum tipo de disfunção na coluna vertebral, e provavelmente será uma escoliose. Logo, não se deve pular as etapas do desenvolvimento psicomotor das crianças, evitando o uso de andadores e acelerando os diversos processos que estão interligados à movimentação.
A postura em si pode ser definida como a posição de um indivíduo que está situado no espaço que o envolve (*** após o texto existe uma explicação mais detalhada sobre a posição ortostática do ser humano e o geocentrismo). E, logicamente, a postura física influencia a postura comportamental e vice-versa. Instaura-se um ciclo reverberativo, difícil de ser mofificado. Para que se tenha uma postura adequada é necessário que haja um correto desenvolvimento do sistema estomatognático, ou seja, altura, largura e profundidade da boca coerente para cada indivíduo, e não uma média pré-estabelecida como são feitas muitas das análises cefalométricas atuais. E para que isso ocorra vários fatores devem estar em harmonia.
No decorrer do desenvolvimento das sociedades, diversas normas são impostas, e muitas vezes essas normas tornam-se hábitos enraizados na cultura, tidos e aceitos como normais, de uso da maioria das pessoas. Um dos hábitos nocivos e “aceito” no decorrer do tempo é o uso de artifícios para a substituição (ou complemento) da amamentação. Nesse ponto inicia-se a disfunção postural, ou a formação de uma postura que irá prevalecer sobre este indivíduo por toda a vida, quando não existem problemas tidos como genéticos. Quando a criança nasce deve ser alimentada exclusivamente pelo leite materno até os 4 meses de idade (no mínimo), pois seu aparelho digestivo ainda é imaturo para receber qualquer outro alimento até essa idade, mesmo água, ou qualquer tipo de chá.
Na embalagem desses produtos está escrito um aviso do Ministério da Saúde, que diz: “O Ministério da Saúde adverte: a criança que mama no peito não necessita de mamadeira, bico ou chupeta; o uso de mamadeira, bico ou chupeta prejudica o aleitamento materno”. E a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz: “O Aleitamento Materno deve ser exclusivo até os 6 meses de idade e pode ser feito até os 2 anos ou mais”.
Quando se usa esses deformadores culturais, para que seja feita a alimentação da criança deve-se estar muito atento, pois a forma como é feito é de suma importância na formação do comportamento posterior deste novo ser humano. Os músculos envolvidos na ordenha da mama são totalmente diferentes daqueles usados na sucção da mamadeira. Com esses artifícios a boca perde sua dimensão adequada e coerente, mudando a posição da língua e, devido a isso, muda-se a posição da mandíbula e da cabeça. Consequentemente, acarretará uma mudança na inspiração do ar, na respiração, na oxigenação do corpo, e logicamente, a posição postural e comportamental deste ser humano.
Nos dias atuais há uma grande dificuldade em solucionar alterações posturais. A porcentagem da população que apresenta algum tipo de dor postural é muito grande, e as variáveis, incontáveis. Quando uma pessoa apresenta sintomatologia dolorosa, geralmente são receitadas drogas, na maioria das vezes analgésicos e/ou anti-inflamatórios, que apenas minimizam e mascaram os sintomas, que são muito importantes para estarmos alertas e buscarmos o tratamento efetivo destes distúrbios. Estas drogas, muitas vezes além de não resolverem a causa da dor, podem fazer com que a pessoa perca a consciência do que pode ou não fazer, pois apenas a dor estará medicada, remediada. Este fato pode ainda desencadear um processo mais grave no futuro, pois sem sintomas fazem-se movimentos e esforços que não iriam ser possíveis naturalmente, ocasionando maiores lesões na região. Esses são alguns dos problemas do uso contínuo desse tipo de drogas. Além disso, existem diversos efeitos colaterais, efeitos adversos, e com o tempo, um risco em causar danos em outros órgãos como os rins e/ou fígado, pois a maioria desses medicamentos é metabolizada no fígado e eliminada através da urina.
Algumas vezes faz-se necessário a intervenção com o uso desses ou outros medicamentos, mas não deveria ser usado livremente e da forma como hoje o é. E sim, sempre, indicada por algum médico ou fisioterapeuta.
Atualmente alguns profissionais da área da saúde, experimentalmente, amputaram as patas dianteiras de camundongos de laboratório, Houve um processo adaptativo onde esses camundongos começaram a andar apenas com as patas traseiras, Após isso observaram que os camundongos desenvolveram escoliose, e com isso afirmam que o ser humano, por ser um ser bípede, tem a grande chance de desenvolver a mesma disfunção ou patologia. Os camundongos andam em duas patas num processo de adaptação de sua locomoção. O ser humano não tem a estrutura, nem as proporções de um camundongo. O que realmente mantém o ser humano ereto, bípede, e sem dor e disfunções é a inspiração, a respiração. E para isso é necessário um correto desenvolvimento do sistema estomatognático, através da amamentação, do não uso de artifícios de borracha, como chupetas, bicos e mamadeiras, e uma correta alimentação, evitando alimentos excessivamente pastosos, para que os músculos estimulem o osso a um adequado crescimento, dentro da antropometria.
Finalizando, a postura humana é uma resultante de diversos fatores, e a boca tem um papel fundamental nesse resultado. Ela é que dá a condição de manutenção e preservação do eixo postural humano. As dores posturais (inclusive na coluna vertebral) têm íntima relação com problemas respiratórios, dores na ATM (articulação têmporo mandibular), dores de cabeça e com a boca. Quando faz-se a adequada reprogramação muscular, alterando a posição da cabeça, muitos desses distúrbios podem ser resolvidos.

Texto elaborado por:
Dr. Carlo Marchesini de Mendonça da Silveira Pereira
Sociedade Brasileira de Bio Cibernética Bucal

Agradecimentos ao Dr. Alexandre Rabboni, por permitir a utilização de trechos do livro publicado: “Aleitamento Materno: um banho de vitalidade”.

*** Geocentrismo:
A postura ortostática pode ser vista em diferentes planos. No plano sagital (visto de perfil) podemos dizer que o eixo vertical do corpo passa pelo vórtex, pela apófise do odontóide (localizada na segunda vértebra cervical, C2), pelo corpo vertebral da terceira vértebra lombar (L3) e projeta-se ao solo no centro do quadrilátero de sustentação formado pelos pés, que devem ser ligeiramente valgos (virados para fora). Estes são considerados fisiológicos nesta posição, em apoio bipodal, se com apoio unipodal desaparecer a posição ligeiramente valga.
Além disso, ainda no plano sagital, se nos posicionarmos de costas numa parede, por exemplo, a distância da coluna cervical a ela deveria ser de 6 a 8 cm. e a distância da lombar deveria ser de 4 a 6 cm.
No plano frontal (visto de frente) deveria haver algumas linhas paralelas no plano horizontal como a linha inter-pupilar, linha entre as comissuras labiais, linha da cintura escapular, linha inter-mamilar, linha na cintura pélvica e linha entre os ossos estilóides radiais (no punho, antes do dedo polegar).
E o último plano onde analisamos a postura humana é o plano horizontal (visto de cima). Ele deve ser simétrico, ou seja, não deve ter diferenças entre os lados das cinturas escapular e pélvica.

Para analisar a posição adequada da boca foi feita uma classificação que mostra a relação entre maxila, mandíbula e dentes. A postura ortostática citada anteriormente é vista em um indivíduo que seja classificado como Classe I.
Um indivíduo Classe II teria uma hiperlordose lombar, a cabeça anteriorizada e o mento (queixo) posteriorizado; e um indivíduo
Classe III teria a cabeça posteriorizada, com hipercifose torácica, e o mento anteriorizado.

O que se deve estar sempre atento é que nem sempre, ou dificilmente, esta classificação é analisada corretamente. Um exemplo disso é um indivíduo considerado Classe III com posicionamento corporal de Classe II. O que faltou para este indivíduo foi um crescimento da maxila (onde estão os dentes superiores), e não que a mandíbula tenha se desenvolvido em excesso. Esta é apenas uma situação que pode ocorrer dentre inúmeras outras que ocorrem com bastante freqüência na Odontologia.

fonte:http://www.biociberneticabucal.com.br

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